“Voltamos à ditadura!” foi a frase que, inevitavelmente, tomou de assalto minha atenção na tarde de ontem. Estava escrita no cartaz segurado pela moça, integrante de um grupo de manifestantes que protestava em Porto Alegre. O grito de ordem que remete ao célebre e quase homônimo “abaixo à ditadura” – outrora proibido e síntese dos anseios de cinco gerações de brasileiros – ressurgiu tímido, talvez encabulado pela relevância que já teve no passado.
Não sei se sou só eu, mas tenho a impressão de haver uma espécie de consenso velado a proteger qualquer expressão que envolva o termo “ditadura”; possivelmente um merecido respeito aos muitos que se sacrificaram para um dia podermos proferi-lo sem qualquer receio. Portanto não é todo dia que se lê “abaixo à ditadura” escrito numa blusa, num muro ou na capa de uma revista, porque, bem sabemos, essas não são palavras a serem ditas em vão.
Influenciado pela consciência da importância da frase no penoso processo de conformação do Brasil que conhecemos hoje, parei na hora o que estava fazendo para me inteirar do protesto. Quis entender, claro, de que maneira o fantasma da ditadura voltara a nos ameaçar, sobretudo após duas décadas de suposta democracia. Quem sabe eu não poderia prestar minha voz à causa? Sim, porque tenho esse blog, que mal ou bem é lido por diversas pessoas propensas a também se solidarizarem com o apelo, certo?
Se preciso fosse, criaríamos comunidades, virtuais e reais, faríamos carreatas, comícios em praça pública, enfim, espalharíamos a notícia, alertaríamos aos desavisados, para que todos pudéssemos nos unir contra o grande inimigo. “Eles são poderosos mas não podem nos calar!”, pensei, pouco antes de compreender a que se devia exatamente a reivindicação: ao que parece, a Anvisa proibiu a utilização de câmaras de bronzeamento artificial no país, visto que o procedimento estético estaria relacionado à maior incidência de melanomas entre seus usuários frequentes.
A partir da perspectiva de atravessar a estação mais quente do ano sem ostentar o tom de pele desejado, a turma aficionada pelo bronzeado perfeito resolveu mobilizar-se e botar a boca no trombone. Imaginem o impropério de, em pleno século XXI, voltarem aos dias de esteiras posicionadas estrategicamente sobre a laje, ou de ter o corpo besuntado por aqueles óleos de origem duvidosa, vendidos em saquinhos? Já pensou o retrocesso?
Some-se a isso a tentativa de impedir a comercialização de cocos nas areias da orla do Rio e não duvido alguém levantar suspeitas quanto à existência de um complô para sabotar o verão de 2010. E o que vêm depois? Cobrar pelo acesso à praia?? É justo por temer o acirramento das restrições que declaro meu apoio incondicional aos “sem bronze”. Porque, fazer passeatas cobrando explicações sobre os escândalos do senado, a iminente crise no setor energético ou o incremento dos índices de violência em nossas cidades é dar murro em ponta de faca. Tudo complicado demais.
Já garantir o bronze ideal e salvar o verão, ainda vale a briga, né?
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG "INSTANTE POSTERIOR", DE BRUNO MEDINA.
http://colunas.g1.com.br/instanteposterior/
Acho que não entendi muito bem... é uma ironia?
ResponderExcluirQuero registrar que apóio a medida se ela de fato tem impacto na redução do cancer de mama...!
Saudações!!! E parabéns pelo blog, meninas!!!
Luana Bonone