No calor da eleição para o DCE da UFBA, a Juventude do PT, como é de praxe entre todas as forças políticas que atuam no M.E., começaram a entoar os gritos de guerra de costume. Nós, da UJS, no clima da eleição e sem a intenção de criar confusão, respondemos dando as costas e dançando. Neste momento, fomos surpreendidas com a entoação de palavras ofensivas, que diziam que a UJS tinha apenas peito e bunda. E é sobre este fato que gostaria de tecer alguns comentários.
Ao dizer que “a UJS só tem peito e bunda”, o que se afirma é que as mulheres da União da Juventude Socialista não possuem conteúdo político e se utilizam do corpo para alcançar seus objetivos. Nesse sentido, duas abordagens são necessárias.
A primeira, é sobre a forma como nós da UJS, mulheres e homens, construímos as lutas e fazemos política. Nossa organização se edifica a partir do amadurecimento das idéias, com amplos debates que buscam o consenso através do convencimento. Este método exige da militância muito estudo, para que a discussão política seja travada com alto nível e com argumentações que sejam capazes de convencer nossos camaradas sobre qual o melhor caminho a seguir.
A segunda, diz respeito à luta feminista que a UJS constrói, junto com a UBM, em diversos espaços e movimentos. A luta feminista e a luta anti racista fazem parte do processo de construção do socialismo. Entendemos que é preciso superar essas questões para, só então, alcançar igualdade plena de direitos. Ainda assim, nos deparamos com a intensificação da luta de gênero diariamente e, mesmo no seio do movimento social, temos que enfrentar o machismo. Para nós fazermos política, precisamos nos desvencilhar de uma carga imensa de pensamentos atrasados que permeiam esse universo. O preconceito, reflexo do machismo dos homens, já é velho conhecido das mulheres militantes.
A questão a que quero me referir aqui, em relação às palavras vexatórias e desqualificantes que nos foram empregadas, é ainda mais preocupante. Trata-se de terem sido orquestradas com a participação de mulheres que, a priori, são nossas aliadas na luta pela emancipação feminina. As mulheres que entoaram o dizer “a UJS só tem peito e bunda” são as mesmas que dizem “legalizar o aborto, direito ao nosso corpo” e “o movimento que eu faço tem mulheres em todos os espaços”. Observamos que, nesse contexto, há uma contradição que se reflete na prática, uma vez que não basta que as mulheres estejam em todos os espaços se não conseguirmos enxergá-las a partir da contribuição política e capacidade de intervenção que elas possuem.
A contradição se acentua quando mulheres que exigem a liberdade sobre o nosso corpo o utilizam como meio de intimidação ao debate político. Dizer que nós só temos peito e bunda é nos reduzir ao que certos homens tentam fazer nos espaços que disputamos.
No séc. XXI, as mulheres começam a colher frutos das lutas emancipacionistas que as Dandaras, Luizas e Loretas forjaram em seus momentos. Nós somos mulheres por excelência, com conteúdo político, disposição e garra para construir uma sociedade sem machismo e sexismo. Somos mulheres completas, com direito à vaidade, ao peito e à bunda. Mas não é isso que nos referencia. A luta emancipacionista perpassa pelo desprezo às características físicas. Não é comum que os belos homens que atuam na política sejam pautados pela sua beleza. Com nós mulheres, isso não deve ser diferente. A nossa capacidade de articulação e percepção da realidade vem da escola do socialismo, que muito nos orgulha. Nossas referências são de gestoras, professoras, artistas, sindicalistas, mulheres guerreiras e trabalhadoras, como Loreta Valadares, Alice Portugal, Jandira Fegalli, Olívia Santana, Luciana Santos e tantas outras camaradas que nos honram nos espaços políticos que ocupam, não pelas suas qualidades físicas, mas pelas contribuições dadas para o amadurecimento das questões de gênero e pela forma qualificada e comprometida com que atuam.
No momento em que me dei conta de que as nossas companheiras na luta do combate ao machismo estavam nos pautando pelas características físicas, como se nós não pudéssemos ter sido agraciadas, de alguma forma, pela natureza também no aspecto anatômico, me acometeu um sentimento de decepção. Passou pela minha mente o caso da moça da UNIBAN em São Paulo. A situação vexatória a qual foi submetida por seus colegas de universidade, por estar vestida de modo a demonstrar o poder que tem sobre o seu corpo, em pouco se diferencia do constrangimento ao qual fomos submetidas na noite de 29 de abril, no PAF 3, afora o substancial fato de quem patrocinou o ato.
Naquele momento, me dei conta de que o caminho para alcançar a superação do machismo é uma longa estrada a ser percorrida. Pergunto-me quais de nós possui o real e necessário compromisso com esta questão. Quantas de nós estamos livres da chaga machista e aptas a enfrentar debates sobre a nossa sociedade, sendo vistas apenas como seres políticos? A decepção é larga eprofunda. Ser hostilizada por mulheres que se apresentam como aliadas – que atuam através da MMM (Marcha Mundial de Mulheres), que travam batalhas, junto com a UBM (União Brasileira de Mulheres) e outras tantas entidades representativas da mulheres, no sentido de fazer um presente e construir um futuro de igualdade e equidade de gênero – é de uma dor desmedida.
Junto com a decepção, surge também a vergonha. Parece que, de alguma forma, os anos de labuta, ali, foram reduzidos a pó, por companheiras que se mostraram confusas e imaturas em sua atitude, deixando cair a máscara da incompreensão sobre a ação de combate, fazendo emergir o monstro do machismo. Não pretendemos dividir o movimento feminista. O que propomos aqui é uma reflexão sobre a prática e a contradição na atuação cotidiana das mulheres que o organizam. Sabemos que os segmentos de tal movimento, possuem em seus quadros muitas companheiras aguerridas que, comprometidas com a causa, trabalham para a formação e conscientização das que ainda se encontram em estágio imaturo e embrionário, muito embora tenham potencial e predisposição para a guerra.
Esse ano, de eleição para a Presidência da República, é um marco para a luta das mulheres. Teremos uma candidata alinhada com o atual projeto de progresso e desenvolvimento social, comprometida com a soberania do país, feminista e com qualificação política. Nós, mulheres da União da Juventude Socialista, estaremos nesta batalha para conduzi-la ao posto máximo da política e do poder no Brasil.
Seguiremos empenhadas em fazer com que a sociedade supere o machismo. A luta é árdua, mas a perseverança e o objetivo são características da militância, que tem o fortalecimento da nação como caminho e o socialismo como rumo. Travaremos muitos debates para ver florescer o Brasil como nunca se viu, sem desigualdades sócio-raciais e onde nós, mulheres, sejamos vistas pela nossa competência. Seguiremos atuando para ser muito mais Brasil, como, oportunamente, preconiza o lema do 15º Congresso da UJS.
Aline Moreira, Dir. de Cultura- UJS Bahia.
UNEGRO
UNIÃO BRASILEIRA DE MULHERES